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Nesta série, Simon Schama argumenta que é impossível entendermos como Shakespeare veio a ficar para a eternidade sem entendermos o quanto ele era um homem do seu próprio tempo.1) Esta InglaterraSchama explora como, nas suas peças históricas, Shakespeare criou uma visão da Inglaterra que ainda soa verdadeira atualmente. Contra o pano de fundo da Reforma Protestante, Shakespeare começou a dramatizar a História inglesa e o caráter inglês de uma forma nova e sem precedentes. Desde o seu primeiro sucesso de bilheteria, "Henrique VI", ele garantiu que a sua Inglaterra não fosse apenas um lugar onde reis e rainhas se pavoneavam e se enfeitavam, mas onde ingleses e inglesas comuns ocupavam o centro do palco.Foi uma visão inclusiva que Shakespeare expandiu na sua obra-prima, "Henrique IV", uma peça que apresenta a Inglaterra em glorioso resplendor: reis e batedores de carteira, escudeiros rurais e prostitutas comuns, cavaleiros corruptos e soldados maltrapilhos. E no centro de tudo isso, está a figura descomunal de sir John Falstaff, um personagem que fisgou o público elizabetano e ainda nos comove atualmente.Falstaff é a criação mais estupenda de Shakespeare, um sonho descomunal de inglesidade que incorpora mais puramente a essência da irreverência, generosidade e sagacidade inglesas do que qualquer um dos personagens com quem ele divide o palco.Além disso, um elenco extraordinário de atores apresenta alguns dos solilóquios mais comoventes e profundos de Shakespeare.2) Coroas OcasSchama explora a atitude de Shakespeare em relação ao outro grande assunto da época dele: a realeza. Ele analisa as maneiras pelas quais as tragédias mais profundas de Shakespeare, como "Ricardo II", "Hamlet", "Macbeth" e "Rei Lear" podem ter sido inspiradas por suas próprias experiências escrevendo para as cortes de Isabel I e Jaime I.Isabel, a consumada atriz real em declínio, provou ser uma musa poderosa, ao passo que as próprias obsessões de Jaime e o senso inviolável da sua própria grandeza inspiraram Shakespeare a sondar mais profundamente a mente real do que qualquer um, antes ou depois dele. Era como se, ao ver a fragilidade, a vaidade e a loucura deles em primeira mão, incendiasse a sua imaginação, inspirando-o a explorar os grandes temas de poder e ambição, em peças que mostram reis dispostos a matar para subir ao trono e enlouquecendo-se e virando figuras patéticas, desprovidas de qualquer poder.Shakespeare ousou tirar a máscara da realeza para revelar os homens falhos por baixo dela. De alguma forma, ele escapou de ser incriminado por isso e revelou verdades profundas não apenas sobre os reis, mas também sobre o resto de nós.