Autor Tópico: Morre John Pilger, aos 84 anos de idade  (Lido 282 vezes)

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FragaCampos

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Morre John Pilger, aos 84 anos de idade
« em: Segunda, 01 de Janeiro, 2024 - 00h19 »



John Pilger, um dos grandes vultos do jornalismo mundial, faleceu ontem, dia 30, aos 84 anos de idade.
O docsPT presta-lhe a devida homenagem, pela coragem, pela sobriedade, pela força e pelo exemplo que deixa para as futuras gerações. Descanse em paz.


Tomo a liberdade de deixar um pequeno texto tirado daqui.


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O trabalho de John Pilger permitiu desvendar histórias ocultas de inúmeros acontecimentos contemporâneos. As suas obras expuseram opressores e seus crimes, e deram visibilidade à coragem daqueles que resistiram à opressão, dos povos aborígenes vítimas de apartheid na Austrália, seu país de origem, às vítimas do colonialismo, guerras, ocupações, pilhagens, injustiças e abusos vários no Vietname, Timor-Leste, Camboja, Afeganistão, Iraque, Chile, Palestina, entre muitos outros países.

O seu documentário 'Death of a Nation: The Timor Conspiracy', datado de 1994, por exemplo, foi feito a partir de uma reportagem clandestina em Timor-Leste e deu um valioso contributo para tornar conhecido o genocídio do povo timorense sob a ocupação da Indonésia, bem como incluiu testemunhos pessoais e imagens de notícias que descrevem o envolvimento de governos estrangeiros neste processo.

Com quase 30 anos de diferença, os dois documentários de John Pilger sobre a Palestina “Palestine Is Still The Issue (Parte 1 e 2)” mostram-nos que, no decorrer de uma geração, a grande injustiça e a violência que assola o povo palestiniano permaneceu inalterada e impune. No seu filme de 1974, descreveu a fuga e a expulsão de quase um milhão de palestinianos, que se tornaram refugiados na sua própria terra – na criação do Estado de Israel em 1948, e depois como resultado da Guerra dos Seis Dias em 1967. “O que mudou”, disse Pilger no seu regresso para filmar o documentário de 2002, “é que os palestinianos reagiram”. “Apátridas e humilhados durante tanto tempo, levantaram-se contra o enorme regime militar de Israel, embora eles próprios não tenham exército, tanques, aviões americanos, navios de guerra ou mísseis... Para [eles], a rotina dominante do terror, dia após dia, tem sido o controlo implacável de quase todos os aspetos das suas vidas, como se vivessem numa prisão aberta”, referiu.

Muitos dos seus documentários, reportagens, artigos e outro material podem ser encontrados no site johnpilger.com (link is external).

Pilger ganhou um American TV Academy Award, um Emmy, e um British Academy Award, um BAFTA pelos seus documentários, que também ganharam vários prémios nos EUA e na Europa, como o de Melhor Documentário da Royal Television Society, o Reporter Sans Frontières de França e o Prémio Richard Dimbleby, concedido pela Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas. O British Film Institute incluiu o seu filme de 1979, “Ano Zero: a Morte Silenciosa do Camboja”, entre os dez documentários mais importantes do século XX.

Pilger ganhou duas vezes o maior prémio do jornalismo britânico, o de Jornalista do Ano, pelo seu trabalho em todo o mundo, nomeadamente no Camboja e no Vietname. Foi Repórter Internacional do Ano e vencedor do Prémio da Paz e a Medalha de Ouro das Nações Unidas.

Os seus artigos são lidos em todo o mundo. Em 2001, foi curador de uma grande exposição no London Barbican, Reporting the World: John Pilger's Eyewitness Photographers, uma homenagem aos grandes fotógrafos a preto e branco com quem trabalhou. Em 2003, foi galardoado com o prestigiado Prémio Sophie pelos “30 anos de exposição da injustiça e promoção dos direitos humanos”. Em 2009, recebeu o prémio australiano de direitos humanos, o Prémio da Paz de Sydney. Em 2017, a Biblioteca Britânica anunciou um Arquivo John Pilger, com todos os seus trabalhos escritos e filmados. Em outubro de 2023, foi premiado com o Prémio Gary Webb de Liberdade de Imprensa do Consortium News.

Pilger apoiou firmemente a luta de Julian Assange e a exigência da sua libertação, denunciando incansavelmente a tentativa de silenciamento da verdade e o ataque à liberdade de imprensa.

O premiado cineasta e gigante do jornalismo é conhecido pelas suas críticas à política externa ocidental e por expor todos aqueles que, detendo o poder político, económico ou ambos, prefeririam permanecer intocados. John Pilger passou a vida a denunciar e a combater, de forma destemida, o imperialismo e o colonialismo, e a expor os media “por aquilo que são, uma extensão do poder corporativo", e um instrumento de “promoção e limpeza das guerras contemporâneas”. Para Pilger, “'austeridade' é a imposição do capitalismo aos pobres e a dádiva do socialismo aos ricos - a maioria paga as dívidas de poucos”.

Numa das suas últimas publicações no Twitter, Pilger escreveu que: “O sangue nunca seca na Palestina. As multidões e as bandeiras em Londres e noutras cidades do Reino Unido são hoje um vislumbre da resistência em todo o mundo à barbárie e às mentiras de uma ocupação patrocinada e armada pelos ‘líderes’ do Ocidente – aqueles que exigem o vosso apoio. Não lhes deem esse apoio”.
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Re: Morre John Pilger, aos 84 anos de idade
« Resposta #1 em: Domingo, 24 de Novembro, 2024 - 01h07 »
John Pilger foi um dos grandes nomes do mundo documental e jornalistico, com Michael Moore e Noam Chomsky, entre outros, ajudaram-me a abrir os olhos de uma maneira clara em relação ao mundo que vivemos. Ia a todos os cantos mostrar as verdades das guerras, das corporações e dos trabalhadores que a mídia corporativa em massa dificilmente cobria.

Também deixo um link com uns artigos da Revista Jacobina para a homenagem.

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VitDoc

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Re: Morre John Pilger, aos 84 anos de idade
« Resposta #2 em: Ontem às 14:11 »
Para mim, foi um jornalista talentoso e corajoso que, infelizmente, deixou contaminar o seu trabalho pelo seu próprio viés ideológico antiocidental. Abundam críticas, bem merecidas e justificadas por sinal, aos EUA, ao Reino Unido, à Austrália e a quaisquer outras nações que tenham alguma vez apoiado o Ocidente, mas o seu trabalho é insuportavelmente ensurdecedor quanto aos desmandos, à tirania e à repressão em países conhecidamente ditatoriais, o que deveria deixar bem claro, para qualquer um capaz de enxergar além do charme "anti-imperialista", que nunca houve qualquer vergonha da parte dele de se mostrar parcial.

Para um jornalista investigativo que afirmava lutar pelos direitos humanos e povos desfavorecidos e criticar todas as facetas do imperialismo, é no mínimo um disparate que não haja, até onde pesquisei, um único documentário dele sobre os Uigures, sobre a lavagem cerebral norte-coreana, sobre o massacre tibetano, sobre a repressão brutal às mulheres e o controle e financiamento iraniano dos grupos terroristas no Oriente Médio ou sobre os inúmeros regimes ditatoriais na África.

Imperialismo só existe quando vem do Ocidente?  :rofl:

Ainda bem que a China, a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte são "exemplos" de democracia e republicanismo.
« Última modificação: Ontem às 14:16 por VitDoc »
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Re: Morre John Pilger, aos 84 anos de idade
« Resposta #3 em: Hoje às 02:10 »
Irão, Coreia do Norte, Afeganistão e todos os regimes ditatoriais de África e da América do Sul deste e do século passado são resultado direto do colonialismo e imperialismo ocidentais.
A China não é imperialista, e até onde sei, não invade países há séculos nem tem bases militares espalhadas pelo globo. A Rússia tem uma longa e complexa história, mas nunca vi nem li o Pilger elogiar regimes ditatoriais, fossem eles quais fossem.
Não querendo desviar o tópico daquele que é o seu propósito, a missão de Pilger era denunciar precisamente a raiz de todos os problemas, que é o imperialismo ocidental, sedeado no petrodólar e consequente sistema financeiro, ambos protegidos e expandidos pelo capitalismo militarizado. Tudo o resto são problemas paralelos criados e perpetuados por esse binómio.
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VitDoc

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Re: Morre John Pilger, aos 84 anos de idade
« Resposta #4 em: Hoje às 04:12 »
... todos os regimes ditatoriais são resultado direto do colonialismo e imperialismo ocidentais.

Para uma iraniana ou afegã diariamente proibida de ter liberdade e o direito à Educação, não interessa quem deu início ao seu martírio, ao conferir poder aos aiatolás.

Para um norte-coreano à beira da morte, não interessam as sanções econômicas impostas pelos EUA, pois a sua fome e o seu medo não se alimentam de história.

O Ocidente, tal como Pilger mostrou, criou muitos dos males no mundo, mas muitos daqueles que os têm propagado ano após ano, década após década, são figuras obscuras e manchadas de sangue, sedentas de poder e cúmplices de abusos, às quais Pilger deliberadamente não fez uma única menção de repúdio.

É por isso que insisto em ser uma voz que não apenas o exalta, também o critica, ciente de que este espaço deve também saudavelmente acolher posicionamentos contrários.

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